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terça-feira, 24 de agosto de 2010

Tormento noturno

Meu peito está doendo de saudades e não consigo dormir. Um grito abafado no meio da garganta me faz engasgar.

E dói.

É cicatriz nova, sangrando ainda... É falta latente, flamejante.

É a insônia tirando a pouca paz que consegui ignorando essa dor. É o carinho tachado de falso se rebelando, se debatendo.

Não sei se saberei, mas posso falar. Não foi mentira, não foi ilusão.

O carinho, enorme, gratuito e verdadeiro conserva lembranças...

Pedidos silenciosos às estrelas a noite... Que cuide de vocês.

Que cuidem quem amo.

Mesmo assim, estranho, distante, frio.

Mesmo no frio da noite solitária em silêncio.

Que mostre que quero a felicidade.

Me retiro a contra gosto.

Me retiro porque devo, não porque quero.

Meu peito dói e não me deixa dormir.

Um grito ecoa na garganta.

Não entendi muito bem o que dizia...

Mas disse, e era importante.

Eu amei mais do que pude.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Que seja doce...

Minha saudade esquenta essa noite fria.

Aquece o corpo e o pensamento.

Essa toda minha saudade, ocupa cômodos e cômodos da minha casa.

Ocupa espaços e espaços da minha cabeça.

Essa saudade pode saber que meu coração haverá de amar muitas...

Mas você é a única exceção.


A única que é sempre presente,
mesmo na ausência,
mesmo no erro,
mesmo no medo.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

O jardim.

Elas brigavam por causa de um jardim.

Deixe-me explicar, elas eram um casal... Ou pelo menos pareciam quando estavam juntas... Mas não vim contar sobre a relação delas, vim falar do jardim, e da briga que tiveram por causa dele.

Chamaremos uma de Marte e a outra de Vênus, pra demonstrar as diferenças.

A história é a seguinte, Vênus tinha um jardim, no apartamento térreo de um prédio de vinte andares, um belo e grande jardim. Marte morava no mesmo prédio, na cobertura.

Mas Vênus era muito ocupada pra dar a atenção que o jardim merecia, então Marte perguntou se poderia ela, cuidar do jardim.

Todos os dias, Marte entrava pelos fundos do prédio, direto no jardim, e passava horas por lá, regando, plantando, adubando e mais que tudo dando atenção pro lugar.

Vênus viajava, trabalhava e continuava com sua correria, encontrava Marte apenas quando estava em casa, normalmente correndo, e ia para o jardim.

Não comecem a pensar que Vênus era uma desnaturada, ou ingrata... Não, ela realmente não tinha tempo, e era muito grata a Marte por cuidar, com tanto carinho, do seu jardim.

Um dia porém, Marte chegou ao jardim e tudo estava diferente. As plantas, os vasos, as mesas, tudo! Tudo fora dos lugares que Marte havia colocado. Ela ficou furiosa, mas decidiu procurar saber o que tinha acontecido.

Quando Vênus chegou, ela perguntou o que havia ocorrido, quem tinha mexido no jardim. Mais ainda, quem tinha mexido, sem avisar, no jardim que ela cuidava.

Vênus respondeu que era uma amiga, chamaremos de Júpiter. Sem explicações para escolha do planeta que a nomeia.

Retomando, Vênus disse que sua amiga Júpiter havia ficado em sua casa e decidido cuidar também do jardim, disse ainda que Marte devia era ficar contente em ter alguém pra dividir o trabalho com ela.

Marte retrucou perguntando se Vênus nunca havia reparado em nada no jardim.

Vênus disse que adorava o trabalho de Marte ali, mas que eram só plantas, não precisava tanto drama por causa de algumas mudanças.

Enquanto brigavam, Marte recolocava tudo no lugar e Vênus ia se irritando com tanto drama, tanta tempestade. Não entendia porque Marte havia ficado tão brava, e atribuiu isso a ciúmes.

Vênus ameaçava ir embora, tinha muitos compromissos e não podia se atrasar por mero ciúmes infantil. Mas ficou até Marte acabar de reorganizar suas plantas.

Quando terminou Marte, mais calma, pegou Vênus pelas mãos, e calmamente deu uma volta no jardim explicando todo o cuidado no trato das plantas e agora reproduzo suas falas:

- Aqui eu plantei roseiras, margaridas, crisântemos, algumas violetas, alecrim, louro e outras folhas perfumadas, no centro do jardim há uma dama da noite, por que eu sei que você gosta do cheiro... Todos os dias eu entro e dou amor a elas... Elas não podem me responder, mas a cada dia vejo que a resposta delas está na beleza que emana de cada uma delas. Eu cuido do jardim pensando no que você gostaria que tivesse. Eu cuido dele como se cuidasse de você. Todos os dias eu rego de carinhos, tentando que esses carinhos cheguem até você. Todos os dias eu espero você perceber ou comentar alguma coisa mágica. Mas vivemos depressa demais e nem sempre conseguimos acompanhar a lenta dança da magia.”

Ainda de braços dados com Vênus, Marte a guiava até o elevador, subiam para o terraço, onde morava.

- Nesse todo tempo em que cuido do jardim, espero que você perceba uma surpresa. E não é ciúmes, ou puro drama a minha chateação com as mudanças.

- Por mais que moremos no mesmo prédio, as vezes te sinto muito longe, então pra matar a saudade eu fico ali, no jardim, plantando o que me lembra você. Cuidando do que me faz te sentir por perto. Mas não posso ficar o tempo todo por lá, então descobri uma forma de te sentir aqui de cima também.”

Então, debruçando sobre o parapeito do terraço, ela apontou pra baixo, onde ficava o jardim. Indicando que Vênus devia olhar.

Quando se debruçou também, Vênus pode entender a raiva de Marte... Cada planta, cada cor, cada forma ali em baixo eram completamente naturais, comuns quando se estava lá, perto. Dentro. No meio do jardim. Eram belos, mas não passavam de plantas aos olhos comuns, ali de cima ela pode entender a mágica. Organizado do jeito que estava, o jardim formava uma imagem, um rosto... Vênus podia ver, era o seu rosto que se formava. Uma lembrança vaga do seu rosto que ia mudando a frente dos seus olhos, ficando cada vez mais parecida com ela... Parecia até que sorria... Vênus enfim viu a mágica.

Elas brigavam por causa do jardim... Mas ali de cima, já não tinha importância essa briga.

domingo, 13 de junho de 2010

The End, Love.

Nunca entendi esse efeito que você tem sobre mim...

Parece que fui "você-izada", tudo o que olho é você

Cada lançamento na rádio é você

Cada música canta em ao menos um verso o que eu sinto...

E não é simples... Cada sentimento louco que me habita...

E cada hora um deles quer porque quer tomar o controle...

Te digo que já cansei de chorar,

Já cansei de sentir saudade, falta.

Já cansei de tentar te deixar partir...

Sempre que eu tento você entra cada vez mais... Aperta o peito

Machuca.

Passo os dias tentando te achar e ao mesmo tempo me impedindo de falar com você.

Já cantei mais músicas de amor que deveria...

Já chorei aquelas todas outras que só cantam saudade...

Agora eu só quero me despedir... Desses sentimentos todos que estão me matando.

Aos pouquinhos...

Numa tortura sem fim.

Me cortam, me sangram, me humilham...

Não é sua culpa. Eu sei.

Você não me deu esperanças, falsas possibilidades...

Foi franca e agradeço.

Mas não consigo deixar de sentir isso.

Esse ‘que’ que não consigo explicar...

Por favor perdoa, mas não posso mais te amar.


É, desabafo... Porque eu cansei de estar sozinha com minhas próprias dores... Já que é com você que eu me desabafaria... E me falta você.

domingo, 30 de maio de 2010

I hope some day...

Suspiro
seco
ecoando
no
comodo
vazio

Assim,
sozinha em minha própria companhia
Descubro mais uma vez
O que meus instintos já haviam alertado.

Sim,
erramos,
a todo momento,
com quem amamos...

A descoberta do novo, do diferente, do encantador, inebria.
Embriaga.

E assim, bêbados dessa fuga do rotineiro,
do cotidiano,
acabamos por perder o que contávamos como certo.

Duvidando da nossa capacidade de reabilitação.
Da fé em consertar as todas coisas que erramos,
mantemos o erro em segredo,
duvidando também da capacidade dos outros de perdoar.

Nos ilhamos no nosso próprio medo
E tristes constatamos que assim fazendo,
Materializamos nossos maiores receios.

domingo, 2 de maio de 2010

Fernando Pessoa

Eu gosto tanto, mas tanto do Pessoa que hoje nem quero escrever nada meu.
Farei dele as minhas palavras, e com tanta convicção de que são verdades para mim que será como se fosse meu... Assim como um poema deve ser, escrito por outra pessoa, mas verdadeiro pra muitas...

Verdadeiro pra mim de muitas formas... E sempre.


Far-te-ei um sonho meu. Ressuscitada
Tua alma mesma será outra e minha.
Libertar-te-ei de ti. Não eras nada.
Serás meu ser, não tu, como és agora
Teremos, o tempo e a terra em nós definham,
O amor nosso lugar, Deus nossa hora.

Como um Deus que pra amar um mundo cria,
Criar-te-ei. Achar-te-ei em Deus e em ti,
Perdido o antigo ser que te fazia
Não me amar, não amar, viver apenas
Uma vida vendida de si
A horas perturbadas e serenas.

Eu que subi a Deus, encontrarei
O fogo sagrado de Prometeu
Com que teu morto ser anunciarei,
Tua alma e corpo mortos totalmente
Novo Pigmalião farei do meu
Fogo viver/vivo, pra além de *.

F.P. [1909]


*espaço em branco deixado pelo autor.

domingo, 25 de abril de 2010

Me chama?

Olá! Tem alguém em casa?
Ela pergunta entrando na sala vazia,
Vazia dela...
As coisas todas que estão espalhadas pela sala de nada lembram que alguma vez ela esteve ali,
entregue.
A luz fraca, oscilante, lembra uma vela que tremula ou tremulava no quarto,
Vazio...
Vazio dela...
Nada ali,
a não ser ela mesma,
lembra que alguma vez ela esteve ali,
Entregue...

Olá! Tem alguém aí?
Ela pergunta ao entrar no coração,
que ainda guarda um espaço dela,
só dela...

Mas a vida...
Oh! A vida!
Ela parece não ter mais espaço...
Não o espaço que ela queria ocupar...
Então ela recolhe os restos das coisas...
Os restos dela mesma que ficaram espalhadas por alguns cantinhos empoeirados da casa
E se prepara pra partir novamente...

Espera talvez um chamado, talvez um toque...
Espera.
Espero.

Vem ver

Beringela

     Hoje eu quis falar com você, conversar sem nenhuma restrição sobre tudo o que fosse e é e será. Hoje eu quis muito que a cozinha fosse ...