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domingo, 28 de fevereiro de 2016

Gratidão

Ninguém nunca me explicou como tirar esse aperto do peito, essa angustia de não ter sido o que queria ser. Nunca me pegaram pelas mãos, desenharam toda a explicação do mundo, das regras, dos efeitos que minha passagem por ele gerava. Ninguém disse que ia ser fácil, pelo contrário, só ouvi das dificuldades, dos obstáculos, de como eu precisava vencer. Me disseram pra ser forte, passar por isso firme, enrijecer.

Não senti verdadeiramente o apoio que me ofereciam, o conforto. Passei a vida afundando e voltando do poço.

Até você.

Entrar na minha história, me pegar pela mão, desenhar a vida. Dar força, suporte.

Palavras não são suficientes, meu agradecimento só consegue, fielmente, traduzir seu efeito na minha vida pelos toques trocados. Suaves, firmes, delicados, grosseiros. Nossos.

A dor vai doer. A lágrima vai secar. O sorriso vai se esconder mas nada, nada, vai tirar essa sensação de que a melhor coisa que poderia me acontecer nesse momento, nessa vida, ser esse nosso encontro.

Cada parte de mim guarda lembranças de você. Tenho seu sorriso gravado na minha retina. Sua existência traz em si uma força que jamais, repito pela importância, jamais deveria ser parada.

Se guardo algo de ruim é a decepção. Comigo mesma, por não conseguir retribuir, da forma que eu queria, essa gratidão pela existência de alguém. 

Não guardarei nada que for bom, porque o bem que quero precisa estar livre, para que o universo faça o que não tive habilidade de fazer.

Te amar foi pouco. Esteve pouco.

Continuo meu caminho, te querendo bem, esperando devolver da melhor forma possível o amor que senti na pele e na alma. Nem sempre estive presente, fisicamente, pra te fazer sentir o bem que você me faz.

Me desculpe. Me odeie.

Mas nunca me senti tão grata na vida como me sinto por você ser exatamente assim, do jeito que você é, em todas as nuances, na sombra, no fogo. Em ser.

Não chorarei o leite derramado, o copo caiu das minhas mãos. Só desejo que essa imensa gratidão que habita meu peito se transforme em chuva e que ela mate a sua sede e que nunca mais te pare, e que seja suave, e que nunca te torne invisível.

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Acaba?

Rima.
Ou pelo menos revira nas palavras essas sensações que já trouxeram paz.
Rima que seu sorriso não combina com raiva, alimente-as ou não.
Rima que o primeiro te amo e o primeiro te odeio se transformam.
Você já é tela, tinta e poeta.

terça-feira, 19 de março de 2013

Falta apertadinha...



Cansada e vazia para discussões, a saudade vem primeiro suave e logo se transforma em turbilhão.
Sua casa ainda é um lugar difícil, cheio de lembranças que ainda não consigo processar.
Tudo é passageiro, uma hora esse incômodo passa e eu consiga pensar em você só com aquela saudade gostosa de sentir, por que alguém foi/é especial na vida...
Mas hoje...
Queria poder sentar do seu lado hoje, mãe, contar todos os casos do dia, rir de alguma bobagem (sua ou minha, tanto faz), dividir o caos que tem sido tudo.
Trabalhos, estudos, afetos...
Caótico mas tem valido a pena.
A casa vai tomando forma aos poucos...
O trabalho vem e vai, como o dinheiro.
Os afetos me ensinam muito, mesmo que demore um pouco para entender o que de fato ensinam...
As coisas que você me deu vão adquirindo novos sentidos, novas energias. Mas não substituem.
Queria poder te chamar pra ir lá em casa depois de arrumada, tomar um café, costurar qualquer coisa, não sei... 
Sinto saudades.

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Irmão

Tenho medo das minhas dores. Coluna, braços, pernas...
Já não são os mesmos, estão exaustos.
O peso que carregam todo dia está drenando a energia do meu corpo.
Meu irmão, que tem 27 anos e pesa mais ou menos 70 quilos, tem que ser carregado pra todo lugar.
Mas não é mimimi de minha parte, não quero que sintam pena de mim. Escrevo porque preciso.

Aos seis meses de gestação do meu irmão minha mãe contraiu rubéola. Uma doença infecto-contagiosa que se cura sozinha mesmo sem tratamento, nada de mais. Seus sintomas são parecidos com os de uma gripe. O problema maior está na infecção quando grávida.
Eu li em algum lugar que nos três primeiros meses ela pode ser transmitida para o feto. Digo que em qualquer estágio de gravidez ela vai ser transmitida para o feto e causar má formação. Meu irmão tem microcefalia congênita, mas não sei precisar mais a condição dele. Já ouvi falarem em hidrocefalia, mas não acho que seja o caso dele.
O que aconteceu é que esse vírus atacou o feto e atrapalhou o desenvolvimento dele. Meu irmão não anda, não fala (na verdade fala sim, mas é uma outra língua exclusiva dele), e precisa de ajuda para tudo. Pra comer, tomar banho, escovar, se limpar, tudo. Eu, mais nova que ele, cresci na realidade dele. Nunca o enxerguei como um doente ou extraordinário. Ele é o meu irmão e o amo. Simples.
Desde que tive forças para o segurar que ajudo nos cuidados diários dele. Carregava ele pra cima e pra baixo já aos 8 anos. Brincava, ria e também brigava com ele. E quando alguém fazia piada ou algum comentário ofensivo eu estava lá pra defender o meu irmão. Já rolei no chão brigando com colegas que falaram que ele era retardado. Em uma festa da escolinha mista que ele frequentava, eu, com meus 4 ou 5 anos, ouvi falarem "olha que dó ele é doente", me contam que eu olhei pro meu irmão e respondi "não é não, olha só, o nariz dele nem tá escorrendo".
Os anos se passaram e a minha postura é a mesma. Meu irmão é um cara fantástico! Hoje um cara barbudo, com cabelos brancos aparecendo, zoador! Quem tem a oportunidade de passar um tempo com ele se apaixona, a diversão dele com minhas amigas é imitar a risada. A Stela até ganhou um "novo nome" na língua dele.
Os anos se passaram, meu irmão. E eu ainda estou aqui pra te defender de qualquer pessoa que venha te taxar como estorvo. Não sou mais a mesma, estou fraca fisicamente mas faço de tudo pra continuar cuidando de você.
Acontece que preciso cuidar de mim também. Eu que nesses anos todos não prestei muita atenção e mim mesma, percebi que não adiantava dedicar minha vida a você se não estivesse bem comigo mesma.
E não estou.
Os seus cuidados diários são constantes. Da hora que você acorda até a hora de dormir, e em alguns dias é preciso fazer uma hora extra. Não posso continuar nesse ritmo.
Quero poder fazer muito por você, mas de formas diferentes. Essa rotina pesada nos leva a trilhar caminhos seguros, até demais. Quanto tempo não saímos pra uma praça, um parque ou praia com você? É um carrega malas, cadeira, carro que impede que a gente se arrisque a passar um tempo produtivo com você por causa de detalhes.
Mano, eu te amo muito, muito mesmo! Minha vida sem você pra dividir o tanto de coisa que a gente divide diariamente vai ser um pouco vazia, mas é preciso. Preciso ter consciência de mim, conquistar minhas metas, meus espaços, pra viver bem e plena e feliz. Tenho certeza que você entende que as minhas faltas não são porque não gosto de você, é por gostar demais que não consigo ser exatamente igual nossa mãe que desistiu da vida toda pra te dar atenção.
Escrevi isso tudo porque nunca falei com você. Não porque eu ache que você não entende, mas porque não sei como vou reagir a tudo. Tenho medos mano, muitos. Assumir assim a minha vida sem ter nada como "desculpa" é uma trabalheira só. Mas tenho certeza que é isso que quero pra mim. E quando você vir que estou bem, tenho certeza que é o que você vai querer também.

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

O mundo

Fico preocupada em ser delicada, em tratar assuntos chatos e não digeridos de uma forma leve e tranquila. Mas não, não consigo mais.
Não quero nem levantar a bunda da minha cadeira pra ir até você e dizer que estou cansada de tudo. Estou cansada desse capítulo do livro, já passei a página.
Te digo que esse é o fim do capítulo. Se estávamos bem? Talvez estivéssemos, não sei. Sei que tudo era uma bomba relógio e que a qualquer movimento brusco uma pequena cidade se reduziria a pó.
Prefiro assim, saída de fininho, sem explicações.
Não permito espaço para despedidas. 
A situação é essa, parti de livre e espontânea vontade, ainda que digam o contrário. Assumi completamente as rédeas da minha vida e agora recebo, também completamente, todas as consequências de cabeça erguida e sem medo.

A vida é um caquinho de vidro tão pequeno, que ao soprar da mais leve brisa saiu voando...

Me perco nos meus pensamentos, isso tudo que disse não significa que odeio ou vou gastar minha linda e leve energia te querendo mal. 
Não vou querer nada. 
Não vou esperar nada. 
~Apesar de achar bacãna que continue sua vida de onde parou da melhor forma que conseguir.~
Lembra quando dizia que não queria ouvir seu nome sair da minha boca? Nem isso vou exigir de você, fale para quem quiser falar, o que quiser falar. Não me importo. Estou desfazendo os nós e não sei se permancem os laços.
Não vou dizer que 'um dia talvez possamos falar sobre tudo isso' porque não tenho controle das minhas querências nesse instante. Estou vivendo o agora, e o meu agora é só meu, sem lembranças, sem dores e sem alegrias. Meu agora é o estado puro de mim mesma, nada mais.
E sim, estou muito bem.

segunda-feira, 12 de março de 2012

Afeto flor



Em seu corpo cúpula fiz abrigo.
Útero e aconchego.
Sua  música me marca compasso. Na sua voz
Soa a energia Desperta no toque.
Fundimos
O que senti não sei explicar, mas tento.
Uma só.
Fomos tempo espaço matéria.
Saí, mas só pra ficar um pouco em você.
Te fiz minha mãe, 
me fiz sua filha 
te batizei suor gozo e lágrimas.
Transcendeu, 

 amor.

ger[mina]


Não sou reflexo
Não sou opaca
Não sou cinza
Nunca fui queimada
Estou escurecida pelos anos que se passaram
Estou imóvel com[o] a árvore na qual me sentei abaixo

Sou assim, mulher-árvore
Faço sombra, vivo sombra, refresco sombra, semente, sombra, sou.

Vem ver

Beringela

     Hoje eu quis falar com você, conversar sem nenhuma restrição sobre tudo o que fosse e é e será. Hoje eu quis muito que a cozinha fosse ...