Procurei tantas formas de me encaixar
(ser exatamente o que precisava que eu fosse)
Procurei me adaptar, me tornar aquilo que eu queria ser
Não sei o que mudou, não sei ao certo o que mudei...
Mas me sinto perdida dentro de mim mesma.
Me sinto sem rumo, sem porto seguro.
E essa solidão inesperada me tira tudo, me dá tudo.
Queria uma casa, uma montanha, uma fuga.
Dessa realidade, da minha, da sua.
Queria uma negação tão grande que afirmasse exatamente o que eu sou.
Abdicar de tudo, esquecer de tudo para restar somente eu.
E esse eu fosse tão forte, tão puro que me envolvesse por completo, a ponto de não precisar mais de outros braços para me embalar, outros colos para me ninar, outros eus pra me completar.
Queria que esse eu fosse tão eu que não me esquecesse jamais desse que sou.
Dessa grande confusão, dessa grande mancha, dessa grande mentira que sou.
Mas como me procurar assim dentro de mim se eu não sei onde me deixei?
Os sabores, os cheiros, os toques, tudo o que senti, vivi, tudo o que estou, todos os lugares que sou, tudo isso me impede de ser esse eu tão sutil e volátil que procuro.
E ainda existe o medo, esse medo que vem de dentro e não tem fundamento nenhum.
Esse medo exatamente do eu que procuro.
Esse medo do eu que procuro
Esse medo que procuro
Do eu.
Agora, nessa noite, de procura, me enterro em mim, me afogo nessas lembranças, exatamente pra esquecer de tudo e me encontrar.
Nada me falta.
E exatamente desse nada que mais preciso.
Dá-me de beber desse nada que me compõe!