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domingo, 10 de abril de 2022

Foi-se

Acordo de uma noite sem sonhos, ao me levantar ainda sinto meu corpo à deriva nesse mar de nadas em que adormeci. O sol discreto também parece meio perdido, sua luz flutuando em meio a um oceano de nuvens. 

Uma frase passa pela minha cabeça, "tudo é improviso", resolvo então não planejar nada. Rotina sempre me deixou exausto, provavelmente porque eu penso demais e me fixo em detalhes. Acho que Caio chamava isso de "parafuso na cabeça", faz muito tempo que não leio Caio, ou qualquer outro autor, na verdade.

A rádio da minha cabeça toca uma música que vive repetindo dentro de mim, "achei que você se lembrasse, mas parece que você esqueceu", de improviso entro no banheiro, um banho talvez tire esses pensamentos todos do meu campo de visão.

Abro a torneira, o chuveiro me banha com um carinho que me pareceu desconhecido, carinho.

Não tenho tido muito carinho comigo, não é?

Todos os dias exausto acordo e me forço a seguir uma lista anteriormente definida de afazeres que quase sempre deixavam de lado o que eu queria.

Os dias foram ficando iguais, e eu cada vez mais cansado e vazio. "Agora são oito da manhã, ódio na manhã", minhas mãos tremem enquanto lavo a cabeça.

Então começo a chorar debaixo da ducha quente, minhas lágrimas se misturando à agua do chuveiro, me sinto escorrendo pelos meus dedos.

No banheiro sem espelhos me vejo pela primeira vez em anos, "consego sentir a dor, e você?"

Viver cansa, deveria ser assim? Se arrastar ao longo das horas dos dias, misturar o ontem hoje e amanhã? "Parado aqui sozinho estou procurando por algo, mas não sinto nada"

Cresce dentro de mim uma sensação conhecida, essa eu vejo todos os dias, a frustração embraza, envolve, sufoca e antecipo todas essas sensações.

Mas não, dessa vez ela me suporta suavemente com seus braços, acalenta meu choro que aumenta e me embala.

Por que eu estou chorando tanto? Subo os olhos, a água cai ritimada, me lembra a chuva.

"Aqui não parece minha casa", ainda é minha, mas o conforto que eu esperava está longe de fazer disso aqui um lar. mas a culpa não é da construção, na realidade nem culpa há para se direcionar a algo.

"Todo meu amor se foi", a canção continua enquanto tento cantarolar e me engasgo no banho. Esse é um bom momento pra encerrar essa ducha, escovo meus dentes e me seco. 

Decido mais uma vez que preciso cuidar de mim, preparo um café, ovos e pão. começo a pensar que preciso comprar frutas, mas logo deixo esse pensamento ir também, o cheiro da comida me pesca de volta em atenção.

A vida não é ruim, minha cabeça não está quebrada, talvez meu coração, mas não sei dizer. O próximo gole de café me afasta de tudo isso. Nele consigo sentir que estou em outro lugar. Sinto brisa e sol e paz. Fecho os olhos e quase consigo sentir o cheiro do mato.

Abro meus olhos no meio da cozinha, minha alma está cansada, minha atenção se volta pro corpo, pesado, triste, carente

É isso, tanto tempo fiquei fechado dentro de mim e de uma ideia de sobrevivência que eu não tenho aproveitado mais o que os dias entregam.

Depois do café um cigarro, meu vício, meu apoio, já tem três meses que minha médica me tirou do antidepressivo, nunca soube o que isso significava, mas agora eu sinto, percebo meus desejos, minhas repulsas, eu não quero viver de ódio, de rancor.

Estamos todos à deriva, invariavelmente. O melhor que posso fazer agora é apreciar a vista.

segunda-feira, 24 de maio de 2021

Eu não sei tirar fotos

Eu não gosto de fotos
não entendo esse rolê todo de memória fotográfica
minha mãe tinha muitas fotos e até hj não consegui espaço na casa pra elas

vou me explicar, eu gosto de fotos. eu não preciso delas
eu amo relembrar, rever lugares pessoas e coisas importantes mas não sinto necessidade de tirar fotos
sempre me achei estranho por isso. sempre liguei a problemas que tenho com minha própria imagem, meu próprio corpo então não presto muita atenção em fazer fotos que retratam o que está/esteve acontecendo

eu gosto daquelas fotos que vc faz do chão, da sombra, da luz, aquelas fotos que ninguém entende, mas você sabe, você vê ali, naquele pequeno recorte, tudo o que vive estampado no corpo, as sensações, as emoções, os sentimentos.

eu gosto do abstrato, do microscópico e do conceitual. eu amo as memórias em mim e amo mais ainda trazê-las para a superfície.

eu não costumo sorrir ou posar para fotos, eu só sei fazer careta, eu não sei me comportar. mas meu corpo absorve cada estímulo que recebo e transforma na memória mais gostosa de sentir.

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Momento

A sensação é de estar em alto mar. E depois daquele desespero de não ter pra onde ir vem a calma de onde se está.
Boiando, no silêncio das horas...
Tranquila...

Mas o medo sempre alcança a gente, medo de algum bicho que possa aparecer, medo do tempo que pode mudar, medo das horas se transformarem em dias... Medo de não aguentar...

Uma urgência de contato, de outra companhia... Uma urgência de dividir o momento.

Estar só as vezes ocupa muito espaço, sufoca.

E o silêncio da brisa, passando junto com o tempo,
Passando junto com os pensamentos...
Passando,
passando...
Embalam um sono mais sufocante ainda, sem nexo, anexo, contexto.

Uma coisa sobrepondo outra, numa dança, num movimento sem sentido...

Num tormento.

quinta-feira, 28 de maio de 2009

Eu escuto canções que a muito não me diziam novidades...
Uma delas canta que acreditava no pra sempre... Mas o que é afinal esse pre sempre em que tanto acreditamos?
Uma faixa de tempo inderteminada que não tem começo nem fim.
Eu sei que pra sempre amarei uma pessoa.
Mas se não tem começo nem fim, como eu sei?
Eu sei porque pensar nela me faz sorrir, porque o cheiro dela me alcança em certas partes do dia e quando ela não está. Eu sei porque esse sentimento bom me envolve completamente e me embala quando tenho medo... E tenho muitos...

Tenho medo de fechar aquela porta e nunca mais me sentir da forma que ela me faz sentir, medo de nunca mais ser envolvida naquele abraço único e especial e que traz paz...

É dependência demais de uma pessoa? Não, acho que não... Eu poderia passar a vida inteira sem ela. Mas seria melhor que ela tivesse comigo. Seria maravilhoso.

Quem pode me dizer que não é eterno por isso? Porque ela gosta de bala de menta e cheira a criança que acabou de sair do banho? Porque ela tem medo de altura mas mesmo assim testou seus limites?

Foi eterno, É pra sempre. Esse instante que se imortaliza em mim, em minhas palavras, é eterno agora e será depois. Pq o depois é nosso, pra sempre.

E sobrevivendo aos meus medos me agarro a sua imagem que paira no meu pensamento tomando conta dos meus dias...

Você é fodásticamente especial.

sábado, 18 de abril de 2009

Assim
Mostro-me
Outra vez...

Vim dizer
O que outrora
Custava-me menos
Exteriorizar



Acredita no que eu falo quando eu te falo?

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

RAZÃO DE SER

Escrevo. E pronto.
Escrevo porque preciso,
preciso porque estou tonto.
Ninguém tem nada com isso.
Escrevo porque amanhece,
E as estrelas lá no céu
Lembram letras no papel,
Quando o poema me anoitece.
A aranha tece teias.
O peixe beija e morde o que vê.
Eu escrevo apenas.
Tem que ter por quê?

Paulo Leminski

O sol indeciso não sabe se brilha não sabe se chora.
A rua deserta, reta, curva me leva por caminhos que já vi.
Mas ainda sim se diferem...

Sensações parecidas, mas não iguais...
Abandono...
De mim mesma... Por mim mesma...
Abandono-me para me encontrar, me encontro em cada casa canto escuro do quarto.
Encontro por todos os lados, só pra me perder novamente.
Me confundo, me decido, volto atrás, me recolho...
Essa inconstancia, essa insatisfação, esse medo.

É, é isso mesmo.
Medo.
Medo de tentar de novo, medo da rejeição... Puro e simples medo...
Medo de não valer a pena...
Mas sempre vale... Até pra dizer o contrário...

Por esse caminho diferente me arrisco a errar, me arrisco a perder e me arrisco a ganhar.
Arriscando, subindo no alto da pedra a espera do momento que flutua.
Que flutue...

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

1ª, 2ª e 3ª pessoas

'Querer...
Você sabe que eu te quero?

Sonhar...
Sentir...
Você sabe que sonho com teus carinhos?

Desejar... '

Depois de tanto tempo sem querer amar, quis... E a menina se perdeu no medo de se entregar... E perdeu também a chance de falar... Quis deixar pra depois, mas o depois não dá espaço para atrasos...
A menina sorri ainda ao ver quem quer bem, mas não conta... É segredo dos mais secretos que guarda pra si. Só.
A menina também tem ciúmes. Do que não tem sentido de ser e de ter. Como ela pode ter ciúmes de alguém se esse alguém nem sabe do seu querer bem?
Quisera eu falar por ela, mas não posso. Não me deixo invadir a vida real dela... Eu sou só o escape, a fantasia... Sou quem faz tudo o que ela deseja, sonha, quer acontecer. E ela me ama por isso. Mais do que devia as vezes... Se esquece do mundo real. Mas o que é real?
Esse sentimento é real... De medo de gostar do outro, de medo de se abrir o coração e o ter arrancado antes da hora.
"E existe hora pra se arrancar um coração?"
Não! Não existe... Mas entende, ela queria poder aproveitar o sentimento, curtir, sentir no mais real da palavra, antes de ter arrancado o coração...
"Mas assim não dói mais?"
Dói! Mas ela não sabe! E do que vale a vida se basear em não-ocorridos? Ela quer dizer que sentiu, que viveu... Que fez...
"Veja, a menina está chorando... Uma criança já, e chorando."
Ela confusa, ela feliz, ela triste... Ela do jeitinho que ela é.
Ela:


O QUE É O CHORO. ESSE ATO TOLO DE DERRAMAR LÁGRIMAS PELOS OLHOS...
ESSE FICAR TRISTE QUE NÃO TEM FIM
ESSE LEMBRAR DE CADA DOR CADA DESAFETO CADA DERROTA
PRA QUE LAVAR A CARA SE AS MARCAS JÁ SÃO PROFUNDAS O BASTANTE PRA NÃO SAIREM
NUNCA
O QUE É ESSA ESPERANÇA QUE NUNCA MORRE
POR MIM ACABAVA LOGO COM ESSA HISTÓRIA DE DIAS DE SOL, BORBOLETAS NA JANELA PÁSSAROS CANTANDO...


melhor não... dorme e sonha...

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

A falta.
Da palavra
Do sentido
Da forma

A falta
Que não quero sentir
Que tenho sentido
Que vou sentir

Posso me esconder da falta
Esconder a falta de mim
Ou viver sem contar que sinto falta?

Repetição pra ver se desgasta
- ou desgosta
Páro o tempo pra sentir a dor de tentar esquecer o que passou, que é maior do que a dor de esquecer... Mas como esquecer se lembro a todo momento que já não penso mais em ti?


E essa minha (des)necessidade comentar sobre a falta de tudo... Que (in)paciência de me escutar... Vai viver vagabundo!

O cachorro que não tivemos, a geléia que ele gosta, a porra louca do vizinho que me dava ciúmes. Cansei de tudo e de mim. Vou viajar, ir pro meio do nada. Talvez tenha me esquecido por lá...

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

"A mágoa que alvoroça nosso peito é tão pura, tão santa, tão nossa, que se esconde aos demais.”¹

Ele não me abraçou, nunca mais... Nem no dia em que ele me disse adeus... E o que mais sinto falta é daquele abraço que encaixava no meu assim, apertado, seguro.
Acho que sinto falta de me sentir seguro ao lado dele. Aquele olhar me passava uma tranqüilidade... Ah! Como eu amo lembrar daquele olhar!
Mas ele foi tirado de mim... Não posso mais me perder e me encontrar naquele olhar.
Não o vi mais... Às vezes eu refazia passos antigos na intenção de talvez trombar com ele... Coisas assim... Nunca encontrei. De um dia pro outro ele havia evaporado.
Pode coisa assim?
Não sei... Talvez eu tenha esquecido como era seu rosto, ou talvez sempre tenha visto de outra forma.
Será que aquele olhar, outro dia, era o dele?
Passou por mim, vi com o canto dos olhos... Pareceu-me familiar... Mas estava um pouco diferente.
Não, não pode ter sido. Meu amor não tinha aquele olhar...

Nem eu tinha esse semblante...

Mas que importa agora... Acho que esqueci o cheiro dele...
A cor dos olhos... Esqueci a cor da pele, esqueci?
Ele era moreno, não! Que importa?
Ele gostava de cavalos... Isso eu lembro!
Ele apostava nas corridas!
Os cavalos correm atrás de coelho? Eu lembro de um coelho...
Não! São os cachorros! Isso ele gostava de cachorros. Quando morávamos junto sempre quisemos ter um cachorro.
Eu não gostava da idéia, mas ele me convenceu. Um labrador!
Ou era uma raça menor? Que importa? Teríamos um cachorro.

Ele amava bala delícia, não posso passar na feira que me lembro dele. Bala delícia recheada com coco. Não! Era morango, geléia de morango!
Ah! Fico feliz de lembrar disso. Me faz pensar que éramos perfeitos...

O bom das lembranças é que podemos simplesmente pular as brigas, os dramas. A vez que ele foi dormir na casa da tia. Não lembro o motivo da briga...
Talvez fosse meu ex, ou a toalha molhada dele jogada em cima da cama...
Uma vez eu dormi na porta...
Ele não queria sair e eu fui sem ele... Como ele ficou chateado! Me trancou pra fora. Mas também eu tinha chegado tão bêbado que de longe já se sentia o bafo.
Mas eu o amava...
As vezes penso que ainda amo...
Mas eu esqueci o tom da sua voz, a forma que ele andava.
Quis esquecer... Assim a falta que o abraço dele me faz diminuiria...
Mas não, agora além da falta do abraço, sinto falta do seu rosto, do seu cheiro e mais que tudo da sua presença e de como eu me sentia perto dele.

Já fazem sete anos agora, acho que fui feliz, muito, ao lado dele.
Espero que esteja bem...

Mas aquele abraço... Ai! Como sinto falta!
Sabia que nunca mais nos abraçamos? Nem no dia em que ele me disse adeus...

¹[Menotti Del Picchia]

domingo, 16 de novembro de 2008

Contradição I

Como posso viver com toda essa contradição, escolhas, acertos e erros.
Não dá pra voltar atrás, e se voltasse como saber que não faria tudo exatamente igual.

A crueldade do coração partido. A dor de partir um coração.

O peso das coisas.

A falta da presença, a presença dessa cor. Aquela cor que eu gosto e que falta.
E que some e que dói.

Volta e repete e explica que não há explicação, não há recurso nem re-consideração.
Consideração. Que consideração é essa que esquece, ignora?

Que passa por quem tanto ama e não vê? Que finge que não escuta o chamado, que não quer chamar?

Esse amor... Meu amor quer um amor pra chamar de meu. Quer uma mulher pra chamar de minha.
Meu amor “possessivo” não serve pra amar seu amor livre. Não encaixa.

Gasto meu tempo pra ver se o tempo passa e que mude.
“Deixei a vida passar...”

Ultimamente tenho sido irracional e cruel, conscientemente.
Tenho ciência pra saber que minhas ações mais recentes são calculadas. São visando atrapalhar, são defesas que uso sem que me ataquem.

Posso imaginar que, inconscientemente, eu possa ter sido assim, tentando defender o que (não) era meu.

Busco pelos cantos o que não quero encontrar. Olho pros lados tentando não ver.

Quem sou eu pra julgar os outros, quando não sou juíza nem de mim.

Eu quero é entender. E ter paciência pra esperar por respostas que se escondem. Elas têm hora certa pra se mostrar. Cedo ou tarde demais. Ou no tempo certo. Ou nunca. Ou quando fôr.

Quero deixar de cantar ‘espero’, quero fazer algo da vida enquanto o tempo passa, pra poder aprender alguma coisa. Pra poder viver e não passar pela vida.

Quero deixar de ser vingativa, quero parar de picuínha, quero tanta coisa e tão pouco.

Quero poder ser eu, assim, defeituosa. E não errar tão sério.
Queria acreditar que nunca houve amor. Ficaria mais fácil. Mas tentar ignorar algo que faz parte da minha história, dói mais ainda.

Vem ver

Beringela

     Hoje eu quis falar com você, conversar sem nenhuma restrição sobre tudo o que fosse e é e será. Hoje eu quis muito que a cozinha fosse ...