Interrogação
Neste tormento inútil, neste empenho
De tornar em silêncio o que em mim canta,
Sobem-me roucos brados à garganta
Num clamor de loucura que contenho.
Ó alma da charneca sacrossanta,
Irmã da alma rútila que eu tenho,
Dize para onde eu vou, donde é que venho
Nesta dor que me exalta e me alevanta!
Visões de mundos novos, de infinitos,
Cadências de soluços e de gritos,
Fogueira a esbrasear que me consome!
Dize que mão é esta que me arrasta?
Nódoa de sangue que palpita e alastra…
Dize de que é que eu tenho sede e fome?!
Tenho fome e sede do que me faz falta...
Tenho vontades e saudades, tenho faltas e lembranças...
Tenho o que me acompanha e o que clama e grita e berra.
Tenho tudo isso, e não me basta... Queria talvez a sobra de quem se banha nos desejos, de quem se alimenta de sonhos...
alimenta-me?
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