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quinta-feira, 20 de julho de 2023

Primeira vez

A primeira vez que te vi parecia um sonho, talvez até tenha sido
Porque eu te vejo mesmo com os olhos fechados.

Na primeira vez que te vi lembro de uma empolgação crescente no peito, o coração que parecia querer saltar da garganta, lugar este que ocupava no momento.

Na primeira vez que te vi senti um tremor nas mãos quando fui te dar oi e uma sensação de incompletude quando me despedi.

A primeira vez que te vi parecia um sonho porque aquele teu cheiro não parecia desse mundo e me deixava tonto, mas era um tonto bom.

A primeira vez que te vi tem gosto de tangerina e o calor forte do sol
Uma brisa fresca e nuvens esparsas com formatos divertidos.

A primeira vez que te vi, a terra parecia estar girando mais depressa, tudo parecia mais apressado. As pessoas, os pássaros, os barcos passando. Menos nós dois, ali, parados, sentados à margem do rio. Só aquele momento me importava.

A primeira vez que te vi tem um sorriso largo, olhos em sorriso e uma leve timidez que desde então parecem fazer parte da minha vida desde o início dos tempos.

A primeira vez que te vi agora parece uma ocupação, porque a casa que era meu peito recebia uma nova moradora, você, e eu torço pra que permaneça.

A primeira vez que te vi foi um sonho porque eu te vejo com os olhos fechados. Quando me deito cheio de saudade.

sábado, 24 de dezembro de 2022

Só mais uma de saudade

A gente sempre acha que tem tempo 
Mais um beijo 
Outro café
Um abraço de despedida 

Mais um minuto 
Mais uma chance
Um pouquinho mais 

Tanto desperdício de tempo 
Tanto desperdício de amor
Economizando afeto para a próxima vez

Próximo encontro 
Proxima oportunidade
Mais um momento e agora eu vou falar o que tenho evitado

Eu vou amar o amor que tenho guardado
Eu vou

Mais
Uma
Vez

domingo, 10 de abril de 2022

Foi-se

Acordo de uma noite sem sonhos, ao me levantar ainda sinto meu corpo à deriva nesse mar de nadas em que adormeci. O sol discreto também parece meio perdido, sua luz flutuando em meio a um oceano de nuvens. 

Uma frase passa pela minha cabeça, "tudo é improviso", resolvo então não planejar nada. Rotina sempre me deixou exausto, provavelmente porque eu penso demais e me fixo em detalhes. Acho que Caio chamava isso de "parafuso na cabeça", faz muito tempo que não leio Caio, ou qualquer outro autor, na verdade.

A rádio da minha cabeça toca uma música que vive repetindo dentro de mim, "achei que você se lembrasse, mas parece que você esqueceu", de improviso entro no banheiro, um banho talvez tire esses pensamentos todos do meu campo de visão.

Abro a torneira, o chuveiro me banha com um carinho que me pareceu desconhecido, carinho.

Não tenho tido muito carinho comigo, não é?

Todos os dias exausto acordo e me forço a seguir uma lista anteriormente definida de afazeres que quase sempre deixavam de lado o que eu queria.

Os dias foram ficando iguais, e eu cada vez mais cansado e vazio. "Agora são oito da manhã, ódio na manhã", minhas mãos tremem enquanto lavo a cabeça.

Então começo a chorar debaixo da ducha quente, minhas lágrimas se misturando à agua do chuveiro, me sinto escorrendo pelos meus dedos.

No banheiro sem espelhos me vejo pela primeira vez em anos, "consego sentir a dor, e você?"

Viver cansa, deveria ser assim? Se arrastar ao longo das horas dos dias, misturar o ontem hoje e amanhã? "Parado aqui sozinho estou procurando por algo, mas não sinto nada"

Cresce dentro de mim uma sensação conhecida, essa eu vejo todos os dias, a frustração embraza, envolve, sufoca e antecipo todas essas sensações.

Mas não, dessa vez ela me suporta suavemente com seus braços, acalenta meu choro que aumenta e me embala.

Por que eu estou chorando tanto? Subo os olhos, a água cai ritimada, me lembra a chuva.

"Aqui não parece minha casa", ainda é minha, mas o conforto que eu esperava está longe de fazer disso aqui um lar. mas a culpa não é da construção, na realidade nem culpa há para se direcionar a algo.

"Todo meu amor se foi", a canção continua enquanto tento cantarolar e me engasgo no banho. Esse é um bom momento pra encerrar essa ducha, escovo meus dentes e me seco. 

Decido mais uma vez que preciso cuidar de mim, preparo um café, ovos e pão. começo a pensar que preciso comprar frutas, mas logo deixo esse pensamento ir também, o cheiro da comida me pesca de volta em atenção.

A vida não é ruim, minha cabeça não está quebrada, talvez meu coração, mas não sei dizer. O próximo gole de café me afasta de tudo isso. Nele consigo sentir que estou em outro lugar. Sinto brisa e sol e paz. Fecho os olhos e quase consigo sentir o cheiro do mato.

Abro meus olhos no meio da cozinha, minha alma está cansada, minha atenção se volta pro corpo, pesado, triste, carente

É isso, tanto tempo fiquei fechado dentro de mim e de uma ideia de sobrevivência que eu não tenho aproveitado mais o que os dias entregam.

Depois do café um cigarro, meu vício, meu apoio, já tem três meses que minha médica me tirou do antidepressivo, nunca soube o que isso significava, mas agora eu sinto, percebo meus desejos, minhas repulsas, eu não quero viver de ódio, de rancor.

Estamos todos à deriva, invariavelmente. O melhor que posso fazer agora é apreciar a vista.

segunda-feira, 24 de maio de 2021

Eu não sei tirar fotos

Eu não gosto de fotos
não entendo esse rolê todo de memória fotográfica
minha mãe tinha muitas fotos e até hj não consegui espaço na casa pra elas

vou me explicar, eu gosto de fotos. eu não preciso delas
eu amo relembrar, rever lugares pessoas e coisas importantes mas não sinto necessidade de tirar fotos
sempre me achei estranho por isso. sempre liguei a problemas que tenho com minha própria imagem, meu próprio corpo então não presto muita atenção em fazer fotos que retratam o que está/esteve acontecendo

eu gosto daquelas fotos que vc faz do chão, da sombra, da luz, aquelas fotos que ninguém entende, mas você sabe, você vê ali, naquele pequeno recorte, tudo o que vive estampado no corpo, as sensações, as emoções, os sentimentos.

eu gosto do abstrato, do microscópico e do conceitual. eu amo as memórias em mim e amo mais ainda trazê-las para a superfície.

eu não costumo sorrir ou posar para fotos, eu só sei fazer careta, eu não sei me comportar. mas meu corpo absorve cada estímulo que recebo e transforma na memória mais gostosa de sentir.

domingo, 9 de maio de 2021

Eu já tive mãe

Mãeeu faço isso há oito anos, o mês de maio também é difícil. São oito dia das mães sem conseguir fazer muito. São oito dias do seu aniversário que ficaram vazios.

Eu tento várias coisas, não me cobro mais, a vontade é ficar deitado o dia todo, procurar filmes ou livros que me fazem esquecer do dia de hoje.

A internet, é claro, não deixa. Então desligo tudo, tento não pegar no celular. Fico com o Sassá e tento fazer de hoje um dia normal, mas não dá né?

Queria fazer um almoço gostoso, limpar a casa, deixar tudo organizado, foi com essas metas que me deitei ontem, mas não fazem mais nenhum sentido.

Recolho meus cacos e vou enfrentar mais um ano, do jeito que der, com esse aperto no peito e a vontade de chorar contínuas.

Aceito minha força de hoje, e ela me permite ficar quieto, deitado, sem vontades. Tem sido difícil demais

sexta-feira, 8 de janeiro de 2021

Como água

Me comprometi com mudanças severas na vida, uma casa, uma cidade, um clima, uma proposta.

A gente é como água.

Quem disse isso é outra pessoa de água, que entende que as vezes vem uma enchente e muda toda a aparência da região. E é essa a meta, andar até não reconhecer nada em volta e aí sim sentar e ver o que pode ser, o que pode ser feito.

É sobre construir uma nova realidade com as prioridades nos lugares, é ter foco e mesmo assim estar atento ao redor e pra dentro.

É sobre ir e viver e avaliar ao mesmo tempo em que se vivencia. 

É sobre como seremos nós mantendo nossos eu's e construindo o presente para o futuro que quero ter.

É sobre nós.

Mas também é sobre mim.

domingo, 27 de dezembro de 2020

Me levantei as seis em ponto da manhã, sem despertador, uma raridade nesses dias que ainda me ajeito no lugar que ocupo da existência. Me levantei as seis em ponto e me despedi, antes de pegar o celular, de uma das pessoas mais inteligentes que tive o prazer de conhecer. 

Hoje descansa quem tinha uma lição dada em cada conversa, quem me ensinou sobre estrelas e a importância delas na localização da gente, sobre como só vamos pra frente se soubermos onde estamos e sobre como cada ação que temos, por menor que seja no nosso dia-a-dia, invariavelmente atinge outras pessoas. 

Sobre a importância de escolher o bem, o coletivo, a união. Pedra fundamental na minha existência, referência de ser, até logo!

Vem ver

Beringela

     Hoje eu quis falar com você, conversar sem nenhuma restrição sobre tudo o que fosse e é e será. Hoje eu quis muito que a cozinha fosse ...