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sábado, 9 de setembro de 2023

Fogo

Eu queria não sentir esse desespero que vai ocupando meu peito, tomando conta da minha respiração e me impedindo de continuar o que eu estava fazendo.

Essa sensação desafiadora que me acelera os batimentos, de um jeito ruim, e me coloca em posição de vida ou morte quando não tem nada acontecendo de fato, quando estou seguro.

Se apaga solo.

Essa inquietação sem fim que me faz correr, não me deixa enxergar ou racionalizar, me coloca em posição fetal na cama, chorando sem saber direito o por quê.

Eu queria não ser assim. Eu queria ser 'normal' e passar pelas situações incômodas com mais calma, mais consciente de que está tudo bem e vai passar.

E não ter essa sensação falsa que só posso estar morrendo, que não entra ar nos meus pulmões, que meu coração vai explodir.

Se apaga solo.

Fiquei meia hora sem me mexer, deitado na cama, abraçado no travesseiro pra conseguir perceber que foi um truque do meu cérebro, que continuo aqui, são e salvo.

Eu queria não ser assim pra não sentir essa vergonha como se tivesse atrapalhado a noite de todo mundo, mas eu sei que não atrapalhei  eu sei que quem está comigo entende, comemora as pequenas vitórias e não vai cobrar mais do que posso dar.

Se apaga solo.

Enquanto a tensão e as lágrimas vão se dissipando, os pensamentos se organizando e o coração voltando pro ritmo, consigo finalmente respirar. Está passando esse vendaval.

O corpo finalmente relaxa e racionalizo o que aconteceu. Só tenho a agradecer estar com as pessoas certas. Ter um apoio profundo é tão significativo pra mim.

Essa chama de ansiedade queima forte, me abala, mas 'se apaga sola'.

quinta-feira, 31 de agosto de 2023

Despedidas



Há um tempo atrás eu escrevi mentalmente cartas de despedida. Apenas três, pedidos de desculpa pelo o que eu deixaria de fazer, perdão pela bagunça, não foi por mal.

Há tanta crueldade nessa necessidade de se despedir, antes eu só pensava em ir embora e depois ia. Mas acontece que a vida, essa arrombada, ela tira pessoas do nosso caminho pra nunca mais voltar tão abruptamente e não, não existe esse momento onde nos abraçamos e nos despedimos. As cartas que ficam pertencem ao ficcional dos filmes, a gente nunca sabe quando é a última vez. A gente pode imaginar, mas saber? Não dá, é muito difícil.

Ainda assim, quando perdemos alguém, além do desejo de mais um minuto por favor, ficam as eternas despedidas que nunca tivemos, que nunca teremos, as despedidas que nunca teremos, as despedidas que nunca teremos. Os ritos, rituais e códigos que criamos pra nos despedir, nunca fizeram muito sentido pra mim, então como fazer para se despedir.

É natural querer mais quando é materialmente impossível? Talvez esse mais um minuto fosse grande merda, mas a gente romantiza. Romantiza tanto ao ponto de escrever cartas de despedida que nunca serão abraços calorosos, a gente coloca no papel um “eu te amo” que não vai amar mais, um “me desculpa a bagunça” que nunca vai arrumar nada. As despedida que nunca teremos face a face, só na cabeça.

Eu quero é sentir, mas estou anestesiado com as despedidas que nunca tive, as despedidas que nunca permiti, as despedidas que nunca dei, as despedidas que nunca terei.

Nunca, me desculpa.

Nunca.

Vem ver

Beringela

     Hoje eu quis falar com você, conversar sem nenhuma restrição sobre tudo o que fosse e é e será. Hoje eu quis muito que a cozinha fosse ...